eu não sei lidar com a falta. sorte tua que existe sozinho e independe do calor do outro. tenho contado as vantagens e até agora não há um sopro ao meu favor. digo que acho isso um tanto incrível e vou arrancando sutilmente com os dentes o esmalte que me resta nas pontas dos dedos, enquanto lá de cima você me encara com tamanha maestria. gosto de pensar que eu era suave assim , que aqui existia algo de bom, que esses dias de cão só fazem parte de uma fase e que no fim das contas tudo tende voltar ao normal. novos dias virão, eles me dizem, mas é como se o tempo tivesse passado rápido demais sobre mim. e sem dó. hoje recuso-me a acreditar. coloco a água no bule e remeto-me às frases de mamãe, às vezes uma gota se divide em duas e essas duas deslizam todo um caminho para se reencontrar somente no final. meio cabisbaixa começo a rir sozinha. entendo que por medida de proteção ela não terminou o óbvio, por tantas vezes essas mesmas gotas simplesmente vão para o ralo, simples assim, ela diria, e sem delongas.


há de se conformar,
meu amor
uma obra do destino
e o reflexo no espelho: para que não me deixe nunca mais.


à vezes penso o que teria acontecido comigo se aquilo que chamo de minha vida tivesse tomado outro rumo, talvez eu nem estaria aqui, talvez eu não me resumiria a isso. eu nunca tocarei a outra margem, mas carregarei o peso dos seus olhos sobre mim quando as coisas complicarem, e isso, talvez, é o que dói mais. por essa razão estou aqui , em teste.


pouco me importa os cães lá fora
eu não espero nada de ser tudo a cada dia e sempre

(e já não me resta muita coisa a fazer)

Um comentário:

Pedro A. disse...

bonito.

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