escolhi crisântemo para o mês. queimei
incenso pela casa, improvisei rezas, lavei o corpo pensando na alma e
sei lá se fez alguma diferença. desde que J. passou para o lado de
fora daquela porta, fiquei a pensar nos meus atos desesperados e nessa
preguiça toda que toma conta dos cômodos. ainda havia muito de J. por aqui. seus LP's estavam espalhados por debaixo da cama, no canto do
sofá, sob a poltrona e até no banheiro. era um esforço terrível encarar a mudança. e por mais que eu tentasse arrumar as coisas de J. e deixar um novo feixe de luz entrar, essa cobrança interna não me parecia nada natural.
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contra aquela manhã de fevereiro, coloquei a música da chuva
que ele cantava tão mal, mas que meus ouvidos já estavam tão habituados. o movimento das coisas. quando dei por mim, estava a dançar em círculos como se o ritmo normal da vida estivesse naquele batuque e nada fosse capaz de tirar a poesia dali. meus pés
simplesmente não paravam e o meu peito crescia a cada respiração
acelerada. por algum absurdo, não me lembro de cambalear sequer uma vez.
a felicidade gritava no estômago. foi quando decidi abrir os
olhos e fitar com muita lucidez a casa ao meu redor. ela agora era
minha, no entanto parecia um erro acreditar nisso. a casa era minha, mas por motivos tão óbvios eu não sentia como se aquele espaço fosse meu. ao processar dos meus pensamentos, eu sentia cada sentimento murchar. subi lentamente as escadas, percorri os cômodos com minhas inseguranças e retornei exausta ao centro da sala. J. ainda estava dentro do meu mundo e tudo o que meu olhar conseguia penetrar me dizia que ele ainda estava presente.
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