quando o
conheci pensei que a nossa história poderia acabar em um roteiro da
Julie Delpy. o fato de ter nos conhecido em um festival musical de verão
me deu o direito de passar longas noites fantasiando sobre isso. nos
conhecemos em movimento, fizemos típicos roteiros românticos de casais
recém-casados e
por isso gostávamos de dizer que o nosso romance não seguia a lógica
habitual dos acontecimentos. estávamos tão felizes que não pensávamos se
as coisas faziam muito sentido ou se aquela direção era a correta.
simplesmente havíamos decidido enfrentar os próximos dias com a
naturalidade e coragem de quem quer viver.
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o sol saía lá fora e nós não tínhamos nenhuma preocupação em levantar da cama. lembro de como eu o olhava como uma mãe olha o seu filho dormir. eu gostava de tê-lo assim, desprotegido e encolhido em meu ventre. ele acordava e se desfazia de sua pose fetal, me dizia "bom dia" e beijava a ternura dos meus dedos. eu o admirava e só pensava em amor. "todos os meus dias poderiam ser assim". e se eu, realmente, quisesse, seriam. eu só falava em amor, mas ainda tudo estava tão contido dentro de mim.
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no primeiro momento que aterrisei os meus pés no chão, tentei me certificar de que aquele terreno era seguro. alimentei uma dúvida profunda sobre a verdadeira identidade daquele homem e estava irredutível a acreditar em sua existência. confesso que eu esperava secretamente que ele fosse se encaixar em algum esteriótipo. a cada encontro eu me preparava para isso, mas quanto mais fomos nos aproximando e eu fui aceitando baixar a guarda, ele foi demonstrando ser uma pessoa totalmente distinta de qualquer outra que eu já conhecera. e aqui não faço diferenciação de sexo não, pois durante a nossa aproximação e as minhas quebras de paradigmas, jurei a mim mesma nunca mais repetir comentários e comparações sexistas. ninguém imagina quão difícil foi deixar qualquer tipo de pré-conceito para trás. sem eles eu estava desmunida e a única alternativa que me sobrava era compreender e confiar.
no primeiro momento que aterrisei os meus pés no chão, tentei me certificar de que aquele terreno era seguro. alimentei uma dúvida profunda sobre a verdadeira identidade daquele homem e estava irredutível a acreditar em sua existência. confesso que eu esperava secretamente que ele fosse se encaixar em algum esteriótipo. a cada encontro eu me preparava para isso, mas quanto mais fomos nos aproximando e eu fui aceitando baixar a guarda, ele foi demonstrando ser uma pessoa totalmente distinta de qualquer outra que eu já conhecera. e aqui não faço diferenciação de sexo não, pois durante a nossa aproximação e as minhas quebras de paradigmas, jurei a mim mesma nunca mais repetir comentários e comparações sexistas. ninguém imagina quão difícil foi deixar qualquer tipo de pré-conceito para trás. sem eles eu estava desmunida e a única alternativa que me sobrava era compreender e confiar.
em
uma relação em que o medo do desconhecido e da total-entrega persiste, é
muito comum nos defendermos antes de qualquer entendimento, porque
qualquer emoção que faça nosso sangue pulsar de forma diferente também
já faz tremer as pernas. às vezes eu tinha recaídas e tentava esconder o
erros pessoais com frases prontas que qualquer pessoa comum usaria como
conforto. talvez isso tenha me impedido de olhar para dentro e entender
o que estava me machucando de fato. o que faltava que me impedia de
conduzir as coisas de forma saudável? o que faltava que me fazia
conduzir a minha vida de forma tão autodestrutiva? eu precisei de alguns
anos para ganhar a disposição de entender as minhas armadilhas
internas, o que me deu certo senso de responsabilidade sobre as minhas
próprias emoções e atitudes. o mesmo não sei se aconteceu com J. a
intensidade da nossa aproximação desgastou o que um dia foi um roteiro
bonito de filme e acusações injustas sobre a falta de racionalidade e o
excesso de emoção do outro passou a fazer parte do nosso cotidiano.
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todo
final me emociona. choro sem parar por doze horas, durmo por três dias e
bebo por tempo indeterminado. cada um desce do jeito que acha melhor,
babe. era o que o amigo me dizia em tom de humor - e por mais que a gente fizesse piada e eu conseguisse abafar o grito com a gargalhada, a queda nunca foi uma experiência confortável. doía cada parte. cada pensamento sobre ele doía e a a verdade era
tão simples: J. não me pertencia, e digerir essa fala me parecia
absurdamente errado e profundamente doloroso. eu o amava nos mínimos
detalhes, mas não sei se o amava sempre. eu o amava somente em momentos
como esse, quando já não
fazia mais sentido algum e era tarde demais para tentar sofisticadas
harmonias.
2 comentários:
Caramba, Sara. Me deu até um aperto no peito. Belo texto, parece até que cada frase foi escolhida a dedo. Gostei muito!
Obrigada, Lidyanne! ;)
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