2:26.a.m: acordei
com um medo no peito. só me recordo do sonho tortuoso e a sensação de
estar presa ao corpo, mas não ter acesso aos sentidos. um segundo depois
fitei com os olhos o que não podia ver: meu quarto vazio que de tão meu
se tornara algo estranho, a tal ponto de ter certeza que dali não
conseguiria mais sair. o silêncio de dentro misturado com o silêncio de
fora. amortecida, deixei o tanto que tinha guardado transbordar, assim,
sem motivo algum. sem ter outro remédio, percebi que minha vaga
existência sempre se resumiu a simples ideia de nãoprecisardeninguém e é incrível como com o passar dos anos tudo isso começa a te perturbar, involuntariamente. nessa noite eu sentia a falta de e
mesmo assim ainda resistia em usar a palavra. nada de afeto. estiquei
meus braços sobre a cama de solteiro e senti a ausência nos lençóis.
translúcida e gelada. não sei como me deixei levar sem freios a esse
ponto. errei várias vezes nos cálculos e agora a madrugada vinha
assombrar meus sonhos. fechei os olhos e cerrei os punhos.
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